quarta-feira, abril 30, 2014

O uso do véu

“Mulieres autem, capite cooperto et modest vestitae, maxime cum ad mesnam Domincam accedunt” (CDC, 1917 - Cânon 1262)
 
     Muitas pessoas me perguntam por que uso o véu na igreja. Antes de uma explicação simbólica, o motivo é obediência. Obediência? Sim. Esse costume vigora desde o início do cristianismo. São Paulo escreveu na sua primeira carta aos Coríntios, capítulo 11, versículo 3 ao 16:

"Toda mulher que reza ou canta (profetiza), não tendo a cabeça coberta, falta ao respeito a seu chefe, porque é como se estivesse rapada. Se uma mulher não se cobrir com véu, corte também os cabelos. E se é vergonhoso para a mulher ter os cabelos cortados ou a cabeça rapada, então se cubra com o véu. Julgai vós mesmos: é decente que uma mulher reze a Deus sem estar coberta com véu? Se, no entanto, alguém quiser contestar, … (saiba que) nós não temos tal costume nem as igrejas de Deus".

     São Paulo é direto e não admite contestações! Mas também São Lino, o segundo Papa, com sua autoridade sancionou o uso do véu. Ele governou a igreja do ano 67 ao ano 78. (Vejam só como é antigo o costume!) E a sanção especial de um papa exclui toda possibilidade de dizerem ser este um costume protestante. Alegando que os protestantes não sabem interpretar as Sagradas Escrituras. O que acontece com uma lei promulgada por um Papa? Uma lei promulgada por um Papa vigora até que outra autoridade papal derrogue esta lei. Algum Papa fez isso? Não. 

     Muito pelo contrário, o costume perdura. O Código de Direito Canônico Pio-Beneditino de 1917 deixava expressa a lei:

"(...) as mulheres estejam com a cabeça coberta e modestamente vestidas, sobretudo quando forem receber a Comunhão".

    Porém, me perguntarão, por que não usam mais o véu? Acontece que o novo Código de Direito Canônico, de 1983, não menciona essa lei. Ele não aboliu o uso do véu, simplesmente não mencionou. Talvez não o considerasse importante, já que o costume de séculos já teria por si, força de lei (Consuetudo est altera Lex). Mas, espíritos mal intencionados e ávidos por novidades começaram a difundir que o uso do véu teria sido abolido e que usá-lo era algo por demais ultrapassado, incompatível com as ideias modernas. E então, aos poucos pararam de usá-lo as jovens, as mães, as crianças e as avós.

     Vejo muitas mulheres voltando a usar a mantilha e muitas pessoas admirando a prática. Queira Deus que este bom costume adentre nos piedosos corações. Contudo, ainda hoje, depois de alguns anos usando o véu na igreja e na Santa Missa, me pergunto se não estou apenas fomentando meu orgulho, desejando que se voltem os olhares para mim, pensando tratar-se talvez de alguma santa. Ou ainda, que me achem uma idiota, uma beatinha. Ou pior, sendo algo tão bonito, que nos lembra da pureza e santidade de Nossa Senhora, não pode ser digno de uma pessoa que comete diariamente tantos e tantos pecados como eu. Tudo obra do demônio. Aposto que todas as leitoras que usam o piedoso véu também já tiveram pensamentos semelhantes. Na expectativa de ajudá-las, deixo a seguinte oração que muitas vezes me ajudou, e reservo um próximo artigo para o simbolismo do véu.

Divino Espírito Santo, hóspede da minha alma, convencida de que a minha verdadeira vida está escondida com Cristo em Deus Pai, visto este véu na minha cabeça na esperança não de aparecer, mas de desaparecer, não para atrair a atenção sobre a minha pessoa mas, para esconder-me na imitação de Maria Santíssima. Que todos olhem para Vós Deus Pai, Filho e Espírito Santo, Amém. 
(Um monge sacerdote)


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário está sujeito a moderação.